domingo, julho 8

Festival MUSA


O concelho de Oeiras tem 20 bairros sociais. Bairro Bento de Jesus Caraça, Bairro da Terrugem, Bairro Luta Pela Casa, Bairro Corações, Bairro dos Barronhos, Bairro Dr. Francisco Sá Carneiro, Bairro dos Navegadores, Alto da Loba, Bairro do Bugio, Bairro Ribeira da Lage, Bairro S. Marçal, Bairro Outurela/Portela, Bairro Moinho da Portela, Pátio dos Cavaleiros, Bairro Encosta da Portela, Bairro do Pombal, Quinta da Politeira, Casal da Medrosa, Bairro Moinho das Rolas e Casal Deserto.
É, ao mesmo tempo, o concelho de Portugal com maior PIB per capita e com maior número de licenciados.

Temos, portanto, neste concelho, enormes diferenças sociais. E elas notaram-se bem quando neste Sábado fui assistir ao festival Musa em Oeiras.

No festival estavam lado a lado gangs com meninos dos colégios. Miúdos das barracas e miúdos das casas com vista para a mar. Sentia-se alguma tensão no festival. Uma espécie de paz podre. Uma trégua na luta diária para ouvirem música reggae.

Houve uma situação em particular que mostrou como as coisas não estão nada bem por aquele lado…

Na fila imensa para pedir cerveja nos únicos 4 espaços dedicados para o efeito, acontecia um fenómeno inacreditável a que as pessoas assistiam com toda a passividade do Mundo e que a mim me deixou muito irritado por dentro…

Sempre que algum elemento do gang (e eram sempre vários ao mesmo tempo), decidia que queria uma cerveja, ia directamente para o balcão e passava toda a gente à frente porque se achava no direito de não ter de esperar como o resto das pessoas…

Iam sempre em grupos de 5/6 e ninguém lhes dizia absolutamente nada, porque todas as pessoas tinham medo do que poderia acontecer caso reagissem. E eu também tive. Então era ver a cara das pessoas indignadas, a cruzarem olhares umas para as outras e a desviarem-nos sempre que os cruzavam com algum dos elementos do gang.
Por outro lado, era ver os empregados a darem-lhes cerveja, completamente resignados, como se nada pudessem fazer. E, provavelmente, não podiam…

No fundo, era como um grito de revolta do gang a demonstrar a sua superioridade em relação ao resto das pessoas…

Cá para mim, é no fundo uma resposta para um conjunto de problemas que estas pessoas têm para aceder a muitas das coisas que a nossa sociedade oferece. Porque não têm dinheiro, ou simplesmente porque não correspondem ao modelo de comportamento da restante população.

Nessa mesma noite, tive a prova de que existem espaços onde estas pessoas não podem entrar. Mais uma vez porque não têm dinheiro, ou porque não correspondem ao modelo de comportamento da restante população.

Como se não tivesse direito a lá entrar. E efectivamente não têm. E provavelmente nunca terão. Fui ao Tamariz, e não vi nenhum elemento de um gang. E se por lá estava, estava muito bem disfarçado porque eu não reparei.

Vamos lá ver se no próximo festival Musa as coisas já melhoraram. Acho que não…

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