sexta-feira, setembro 17

As Árvores




Tenho uma revelação a fazer... Sou maluco por árvores. Enquanto que há pessoas levam na memória dos sítios que visitam os nomes das ruas, as lojas, os museus, as pessoas... eu levo as árvores. É das coisas mais magnéticas que para mim existem e consigo com alguma precisão lembrar-me do tipo e localização das árvores da maior parte dos sítios que conheço em Lisboa. Não sei explicar a razão mas para mim são fontes de referência importantes e transmitem-me tranquilidade e intemporalidade. Saber que em Portalegre, no jardim central, existe um plátano de 200 anos é algo muito valioso para mim e quando o visitei imaginei os 200 anos de pessoas que a viram e com ela conviveram. São seres vivos magníficos e majestosos! :)

terça-feira, agosto 17

Pesadelo preocupante!

Gostava de alguém que saiba de interpretação de sonhos que me explicasse este que eu tive esta noite.
O sonho passava-se em casa de pessoas que eu não conhecia, em apartamentos altos. Basicamente, a dada altura, começava tudo a atirar-se da janela caindo esborrachados no chão. E a minha preocupação maior era andar junto de uma pessoa qualquer para garantir que ela não se atirava também. E porquê? Porque a minha maior preocupação é que chegasse a policia e que pudesse ser incriminado por aqueles suicídios todos. Muito muito estranho...

segunda-feira, maio 17

Resposta ao discurso do Presidente sobre o Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo

Discurso do Presidente da republica comentado...

"A Assembleia da República aprovou no passado mês de Fevereiro, uma lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo." ----> nem mais!

"É de lamentar que não tenha havido vontade política para alcançar um consenso partidário alargado sobre uma matéria de tão grande melindre, de modo a evitar clivagens desnecessárias na sociedade portuguesa." ----> O consenso partidário seria sempre impossivel, porque tanto o PC, BE e PS defendiam o casamento, Os outros partidos defendiam uma união civil registada. O consenso que o Cavaco propõe era impossível de atingir, porque não havia uma solução pelo meio, Parece que Cavaco queria era uma cedencia à minoria parlamwentar...

"Face à grave crise que o País atravessa e aos complexos desafios que tem à sua frente, importa promover a união dos Portugueses e não dividi-los, adoptar uma estratégia de compromisso e não de ruptura." ---> nada a apontar. De facto, nao me parece até que isto seja uma questão assim tao fracturante...

"As forças partidárias que aprovaram o diploma não quiseram ponderar um princípio elementar da acção política numa sociedade plural: o de escolherem, de entre as várias soluções jurídicas, aquela que fosse susceptível de criar menos conflitualidade social ou aquela que pudesse ser aceite pelo maior número de cidadãos, fosse qual fosse a sua visão do mundo." --> Como já referido acima, não havia solução possivel consensual...

"Considero que não teria sido difícil alcançar um compromisso na Assembleia da República se tivesse sido feito um esforço sério nesse sentido." ----> Não era de facto dificil. A palavra certa seria mesmo impossivel.

"Bastava ter olhado para as soluções jurídicas encontradas em países como a França, a Alemanha, a Dinamarca ou o Reino Unido que, como é óbvio, não são discriminatórias e respeitam a instituição do casamento enquanto união entre homem e mulher." ---> Esta solução correspondia à minoria da assembleia....

"Nesses países, à união de pessoas do mesmo sexo foram reconhecidos direitos e deveres semelhantes aos do casamento entre pessoas de sexo diferente, mas não se lhe chamou casamento, com todas as consequências que daí decorrem." ---> Nem mais.. semelhantes, não iguais...

"Aliás, no mundo inteiro, só em sete países é designada por “casamento” a união entre pessoas do mesmo sexo. Dos 27 Estados da União Europeia são apenas quatro aqueles que o fazem." ----> Tal como na abolição da escravatura e da pena de morte!

"Não é, portanto, verdadeira a afirmação de que a inexistência do casamento entre pessoas do mesmo sexo corresponde a um fenómeno residual no mundo contemporâneo, um resquício arcaico típico de sociedades culturalmente mais atrasadas." ----> Ninguém disse que nesse aspecto Portugal era retrógrado de forma relativa. Era só de forma absoluta!

"Não me parece que alguém, honestamente, possa qualificar o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Suíça ou a Dinamarca como países retrógrados." ---> No seu geral não, mas neste tema em particular, estão neste momento aquém de Espanha e Portugal.

"O diploma da Assembleia da República, que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi por mim submetido à fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional, tendo por este sido considerado não inconstitucional." ----> Como era espectável!

"Tal não impede, contudo, que o Presidente da República possa ainda utilizar o poder de veto que a Constituição lhe confere e devolver o diploma ao Parlamento." ---> Tendo em conta que foi requerida fiscalidade do diploma, parece-me pouco consequente. A vetar, seria logo após a recepção do diploma. Se não, para que requerer a fiscalidade do diploma? Ganhar (perder) tempo?

"Importa, no entanto, ponderar os efeitos práticos de uma tal decisão e ter em devida conta o superior interesse nacional, face à dramática situação em que o País se encontra." --> A situação económica do país não vai decerto ser deteriorada com a aprovação deste diploma. Pode ficar descansado!

"Conhecidas que são as posições expressas aquando do debate do diploma na Assembleia da República, tudo indica que as forças políticas que o aprovaram voltariam a aprová-lo." ---> Uma quentão de coerência! Voilá!

"Nessas circunstâncias, o Presidente da República seria obrigado a promulgá-lo no prazo de oito dias." ---> Exacto!

"Sendo assim, entendo que não devo contribuir para arrastar inutilmente este debate, o que acentuaria as divisões entre os Portugueses e desviaria a atenção dos agentes políticos da resolução dos problemas que afectam gravemente a vida das pessoas." ---> Parece-me sensato. Mas se é um assunto de somenos importância, para quê uma declaração ao país, não é?

"Como Presidente da República não posso deixar de ter presente os milhares de Portugueses que não têm emprego, o agravamento das situações de pobreza, a situação que o País enfrenta devido ao elevado endividamento externo e outras dificuldades que temos de ultrapassar." ---> Todos temos as cincunstâncias bem presentes...

"Os Portugueses recordam-se, certamente, de que na minha mensagem de Ano Novo alertei para o momento muito difícil em que Portugal se encontra e disse mesmo que podíamos “caminhar para uma situação explosiva”. E disse também que não é tempo de inventarmos desculpas para adiar a resolução dos problemas concretos dos Portugueses." ---> Exacto, daí a demora na aprovação do diploma, não é?

"Há momentos na vida de um País em que a ética da responsabilidade tem de ser colocada acima das convicções pessoais de cada um." ---> Nem mais!

"Assim, decidi promulgar hoje a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo." ---> E fez muito bem e escusava de ter demorado tanto tempo!

terça-feira, março 2

Localizador de objectos

A tecnologia já existe. O que não existe é ainda uma tecnologia suficientemente barata para permitir a massificação do seu uso. Chama-se RFID - Identificação por rádio-frequência. Conseguimos perceber rapidamente que ainda estamos em plena idade média quando estamos em casa, procuramos um livro e não o conseguimos encontrar. Ou estamos na cozinha e não encontramos uma colher de pau. Perder tempo a procurar coisas é qualquer coisa de impensável daqui poucos anos. Basta colocar um chip nos objectos que compramos (ou estes já vêm por default, preferencialmente) e quando os trazemos para casa passar no leitor para armazenar a descrição do produto e respectiva identificação electrónica. Sempre que não demos com o objecto, basta ir ao leitor, seleccionar o objecto e receber a indicação da localização. E voilá! Em vez de perdermos a paciência e a energia às voltas pela casa vamos directamente ao sítio onde o objecto está localizado. Esta diferença entre os dias de hoje e os próximos anos é bastante óbvio. Em breve escreverei outras.

Ver mais sobre RFID aqui.

quinta-feira, fevereiro 25

Desde quando é que as mulheres podem usar calças? Mas isto é uma moda ou quê? Estão doidas?


Corria o maravilhoso ano de 1969. A questão era se era legal as mulheres usarem calças. É ler porque se trata de um artigo muito interessante para perceber como era a sociedade portuguesa há 41 anos.

As grandes revoluções que aindã estão por fazer em Portugal (e também no Mundo)

Vou dedicar os próximos posts a tentar adivinhar aquilo que vai mudar (ou deveria mudar, no meu entender) nos próximos 50 anos. Desde que as mulheres começaram a usar calças já se conquistaram muitos direitos mas ainda muitos estão por conquistar. Está lançado o mote, portanto agora já não há volta a dar!

segunda-feira, fevereiro 8

MGF - Um acrónimo a aprofundar...

Esperava tudo menos uma notícia destas. Estava a ler hoje um jornal online e anunciavam que a mutilação genital afectava 500 mil mulheres. Pensei que o número já era grande, quando percebi que era apenas na Europa. No Mundo perece que são 140 milhões de milhões de mulheres. Na Europa, dizem que por ano estão em risco 140 mil mulheres todos os anos de ser mutiladas sexualmente. Na Europa!!! Mesmo ao lado das nossas portas. E apesar de não existirem números em relação a Portugal, parece que existem vários países de língua oficial portuguesa que têm uma grande tradição nessa prática, e que a trazem para Portugal quando emigram. É simplesmente inacreditável. É de uma barbaridade sem precedentes. Estas mulheres, para além dos problemas de saúde que podem vir a sofrer no imediato, ficam eternamente mutiladas e sem possibilidade de extrair prazer nas suas relações sexuais. Imaginem o que isto significa para o equilíbrio psicológico destas mulheres. Altera por completo todo o conceito de uma relação, que em grande parte passa exactamente pela boa convivência sexual entre os parceiros. Basicamente estas mulheres passam a vida a fazer fretes aos seus maridos no resto dos seus dias. A comunicação social, parece-me, não está a dar o devido enfoque a esta questão. Deveriam existir penas exemplares para estes casos de forma a mitigar estas práticas paleolíticas.

sexta-feira, fevereiro 5

Beijos de Mãe



Há uns dias estive a ver o Big Fish. É um filme do Tim Burton que retrata a história de um pai que conta a sua história de vida a um filho. E nessas histórias há muitas coisas fantásticas que o filho começa a pôr em causa com o avançar da idade. Em determinada altura, quando o pai adoece subitamente, tenta a todo o custo separar o trigo do joio, e saber exactamente aquilo que era verdade ou mentira naquilo que o pai lhe contara. E nesse filme, e segundo aquilo que eu interpretei, pouco importa o que é verdade ou mentira, porque aquilo que eram as mentiras não tinham outro objectivo que não tornar a história mais interessante. E isto vem a propósito de acontecimentos recentes que me têm vindo a fazer aperceber-me que estou a perder alguma do lado fantástico que sempre tive e fazia questão em manter. Senão vejamos… A minha avó morreu há aproximadamente 1 ano e 1 mês. Na data que marcava 1 ano após a sua morte, surgiu uma flor de mãe – que era a flor que ela mais gostava – numa floreira que ela tinha na sua casa. Essas flores só começam a aparecer na Primavera, com temperaturas amenas e com muito sol. Há cerca de 1 semana e meia, nasceram 2 novas flores na altura da comemoração do seu aniversário, que coincide com o aniversário do meu primo Miguel. Toda a minha família lamechas acha que só pode ter sido obra dela, estas manifestações florais que têm acontecido. Estas manifestações dão uma alegria enorme a todos os elementos da minha família e têm surgido até algumas moradoras de um bairro próximo (que conheciam a minha avó) só para ver o “milagre” que tinha acontecido. E eu, com a minha mente já “velhota”, começo logo a contestar toda aquela “insanidade” mental. E agora pergunto-me? Quem sou eu? Com que propósito? E com que interesse? Qual é o objectivo prático de tentar baixar à realidade os pensamentos de familiares meus que se confortam tanto com estas manifestações profanas de algo superior. De algo tão fantástico? E porque razão é que não entro na mesma onda e até aproveito um pouco aquela alegria que é ver aquelas 3 flores que “são” um presente que a minha avó nos resolveu dar? Tenho que me deixar rapidamente desta minha nova onda científica e voltar a aceitar em mim todo este lado do imaginário que também conforta e aquece. Mesmo que não seja verdade.

terça-feira, janeiro 19

E já não vos chateio mais com esta história da Furia Divina... Mas este texto é a cara chapada do livro!

Exclusivo i/The New York Times

Odiava o pai: "É a última vez que vais falar de mim". Voltou quatro anos depois para fazer explodir um avião


Muito antes de Umar Farouk Abdulmutallab desaparecer nas escarpadas montanhas do Iémen depois de um agourento adeus ao seu pai - "esta é a última vez que vais ouvir falar de mim", segundo relatos de responsáveis nigerianos de topo - eram já visíveis as tensões entre estes dois homens religiosos.

Embora a carreira do pai na banca tenha trazido grande riqueza, suficiente para financiar uma mesquita de bairro em nome da família e contratar um imã para ter em casa, os seus primos dizem que o jovem Abdulmutallab condenava abertamente a profissão como imoral por cobrar juros e exigiu ao pai que deixasse a banca.

"Ele estudava no estrangeiro e sempre que vinha a casa de férias dizia ao pai que tinha de deixar de ser banqueiro porque isso não era islâmico", recorda um dos seus primos sob condição de anonimato, porque a família proibiu o contacto com a imprensa.

Por detrás do percurso de Abdulmutallab, de estudante dotado a suspeito de terrorismo, acusado de tentar despenhar um avião destinado a Detroit a 25 de Dezembro último com explosivos que coseu à roupa interior, está a luta entre pai e filho, entre devoção e radicalismo, entre um investimento nesta vida e o desejo, aparentemente incoerente, de um jovem pela próxima.

É uma luta no interior do próprio Islão, não só no Médio Oriente ou em centros de ideologia jihadista como Londres, mas também aqui em Kaduna, a cidade do norte da Nigéria onde Abdulmutallab cresceu e regressava nas férias.

Estamos num lugar onde a linha que divide devoção e extremismo é muitas vezes impossível de distinguir, onde a polícia islâmica assegura a obediência aos códigos morais, onde muita gente morreu por causa da violência religiosa instigada pelo concurso de Miss Mundo de 2002 e onde até uma família tão ocidentalizada como a de Abdulmutallab manteve contactos com clérigos locais para apoiar ideais anti-ocidentais e anti--israelitas.

"A cidade de Kaduna tem uma longa história de extremismo religioso e intolerância", diz um vizinho, Shehu Sani. "Há 30 anos que existe aqui violência. Pessoas como Farouk cresceram nesta atmosfera. Não acho que todas as suas ideias radicais tenham vindo do Iémen."

Embora seja raro uma criança privilegiada como Abdulmutallab abraçar o extremismo, não é uma situação inédita, afirmam os analistas, trazendo à memória alguns casos infames.

John Walker Lindh, o norte-americano capturado quando combatia pelos talibãs, era filho de um advogado e cresceu nos calmos e endinheirados subúrbios de Marin County, Califórnia. O pai de Osama bin Laden era um empreiteiro incrivelmente rico da Arábia Saudita, enquanto a segunda figura da al-Qaeda, Ayman al-Zawahri, é um médico que vem de uma família de grande prestígio no Egipto. E tal como Zawahri, afirmam alguns analistas, Abdulmutallab partilhava outra característica de alguns jihadistas famosos.

"Ele é solitário e isolado", diz Hani Nesira, director na Al Mesbar Studies and Research Center, que se especializou em movimentos islâmicos. "Estes indivíduos são habitualmente diferentes do meio social que os envolve e são incapazes de se encontrarem a eles próprios." Costumam vir de famílias que podem até monitorizar a sua educação, mas que ignoram "o seu temperamento e as suas inclinações psicológicas e intelectuais", acrescenta Nesira, permitindo que os solitários e deprimidos procurem o sentido de pertença numa "utopia religiosa", por vezes radical.

O verdadeiro Islão Este tipo de distanciamento dos outros e o enfoque único no Islão foi um denominador comum na vida de Abdulmutallab, segundo membros da família, amigos e colegas de escola. Era já evidente antes de começar a enviar estridentes mensagens de texto ao pai - a dizer que tinha encontrado "o verdadeiro Islão" e que a sua família "devia esquecer que ele existia", relata o primo - que alarmaram o pai a ponto de este avisar as autoridades americanas, em Novembro, que Abdulmutallab era uma ameaça à segurança.

"Ele é completamente abstémio", diz o tio, por casamento, de Abdulmutallab, Mahmoon Baba-Ahmed, que dirige uma estação de televisão em Kaduna. "Ele não faz o que os seus pares costumavam fazer. Está sempre dentro de casa, a ler o Corão."

Enquanto os outros jovens iam a festas, Abdulmutallab passava as suas visitas a casa do outro lado da rua, na mesquita financiada pelo pai, Alhaji Umaru Mutallab, usando o nome do avô, sempre na primeira fila. A sua devoção era tão declarada que os jovens de Kaduna gozavam-no por causa disso, conta o seu vizinho.

Serviu também para preparar o terreno para o conflito com a sua própria família, por muito devota que esta fosse. Ao longo da arborizada Ahman Pategi Road, um oásis de palmeiras e mangueiras nesta cidade cinzenta, os seguranças do bairro abastado de Unguwan Sarki conhecem bem a história. Uma noite, o jovem Abdulmutallab levou um prato com os restos da mesa de jantar da família - o prato do pai - para dar a um dos guardas. A censura da mãe por causa desta violação da etiqueta foi suficientemente audível para chegar aos ouvidos dos empregados domésticos; a resposta calma do jovem foi citar um verso do Corão sobre os deveres para os menos afortunados. "Ele não era muito chegado ao pai", revela Aminu Baba-Ahmed, um primo por casamento. A má vontade fervera em lume brando depois de o jovem, aos 21 anos, ter expresso a vontade de casar-se, recorda o primo, mas os seus pais recusaram, alegando que ele ainda não tinha um mestrado.

Abdulmutallab estava cada vez mais isolado, diz quem o conheceu em Kaduna. O jovem que, em adolescente, jogava basquetebol e PlayStation com o primo retirara-se para a sua fé.

Em posts na internet, em 2005, quando Abdulmutallab estudava num colégio interno inglês no vizinho Togo, reflectiu sobre o seu estado de isolamento. "Sinto-me deprimido e só", escreveu. "Não sei o que fazer. E depois começo a pensar que esta solidão conduz-me a outros problemas." Em 2007, quando Abdulmutallab estudava engenharia mecânica na University College de Londres, a transformação era já profunda.

"Ele tinha mudado. Era só 'Islão, Islão, Islão'. Dizia que todos tínhamos de tentar mudar e ser mais islâmicos", recorda Aminu Baba-Ahmed. Mesmo nos meses mais recentes, diz, o rapaz divertido que conhecera censurava-o por ele ir a festas. "Fiquei realmente surpreendido", diz Baba-Ahmed.

Racismo ganha raízes O radicalismo político ganhou raízes arreigadas. Em Londres, de acordo com um amigo local, Abdulmutallab vivia sozinho na propriedade da família, no número dois da Mansfield Street, um edifício imponente de pilares brancos num bairro de classe alta perto de Regent's Park, onde abundam os Mercedes e os Bentley. Os jornais, os vizinhos e alguns membros da família na Nigéria acusam hoje a falta de supervisão - um sintoma daquilo a que chamam a negligência existente na elite nigeriana - de facilitar o deslizar de Abdulmutallab para o terrorismo.

A sua família pode ter assumido que a religiosidade de Abdulmutallab impediria a libertinagem, e assim foi, pelo menos em termos convencionais. Mas ele seguiu um rumo bastante diferente, assistindo a orações em mesquitas de Londres que estão sob vigilância dos serviços de segurança britânicos, por causa das suas ligações radicais. Mesmo assim, embora fosse visto como estando a "aproximar-se" de conhecidos extremistas e a surgir "na periferia de outras investigações" a suspeitos radicais, não era considerado uma ameaça terrorista, segundo um funcionário dos serviços de contra-inteligência britânicos.

Para a palestra inaugural da "Semana da Guerra ao Terrorismo" que Abdulmutallab ajudou a organizar, como presidente da associação islâmica da universidade de 2006 a 2007, o grupo alugou uma grande sala de conferências. A sala estava cheia, diz Fabian De Fabiani, que era estudante e assistiu à conferência junto com 150 pessoas. Alguns membros da associação vestiram-se com fatos de macaco laranjas parecidos com os dos detidos de Guantánamo; ficaram à porta a distribuir panfletos.

Abdulmutallab estava sentado "onde o conferencista normalmente se senta", diz De Fabiani, "muito próximo" de Moazzam Begg, um antigo detido de Guantánamo que à data estava em contacto com Anwar al-Awlaki, o pregador radical que Abdulmutallab provavelmente conheceu no Iémen antes de partir para o seu falhado atentado bombista. Numa entrevista, Begg reconheceu ter assistido ao evento, mas não se lembrava de ter conhecido Abdulmutallab.

"Quando nos sentámos, passaram um vídeo que abria com imagens das Twin Towers depois de serem atingidas, a seguir passavam imagens de mujaedines a combater, disparando morteiros no Afeganistão", afirma De Fabiani.

Existe uma grande diferença, é claro, entre devoção religiosa e radicalismo político e violência e, embora "muita, muita gente inicie a jornada" em direcção ao extremismo islâmico, só "um pequeno número" se empenha em derramar sangue, referiu o funcionário da contra-inteligência britânica.

Sem protecção Apesar de rica e protegida, a família de Abdulmutallab não estava isolada do fervor islâmico que levou aos surtos de violência em Kaduna. Em 2002, jovens muçulmanos provocaram distúrbios e entraram em confrontos com cristãos após um artigo de jornal sugerir que o profeta Maomé poderia ficar contente se escolhesse a sua mulher entre as candidatas a Miss Mundo, que iriam competir pelo título na capital, Abuja: 220 pessoas foram mortas e multidões incendiaram 16 igrejas, nove mesquitas, 11 hotéis e 189 casas, de acordo com um grupo local de direitos cívicos liderado pelo vizinho de Abdulmutallab, Sani.

Apesar de a violência não ter atingido a serenidade do complexo familiar, as posições radicais que se introduziram na sociedade poderão tê-lo feito. A família de Abdulmutallab frequenta uma das maiores mesquitas de Kaduna, a mesquita Sultan Bello, para as orações e o sermão de sexta-feira, diz o imã. Os sermões anti-ocidente e anti-Israel são comuns entre as suas paredes, explica Nasir Abbas, defensor local dos direitos humanos que frequenta a mesquita. "Ouve-se falar daquilo que Israel tem feito à Palestina, ouve-se falar disso e também das contribuições que os americanos dão aos israelitas",- diz Abbas. Aliás, "em todas as mesquitas" de Kaduna se pode ouvir sermões anti-ocidente.

Evidentemente, o pai de Abdulmutallab não partilha dessas visões, tendo em conta que foi o primeiro a denunciar o perigo que o seu filho representava. Porém, até Mutallab se encontra com pessoas como o Imã Ibrahim Adam, que afirma ter estado na casa da família e com o pai de Abdulmutallab em "encontros religiosos" e em reuniões para a criação de um banco islâmico, do qual Mutallab é presidente do conselho de administração, de acordo com o site do banco. "Deviam ter sido os muçulmanos iemenitas a atacar a América e não um nigeriano", diz o imã, embora acrescente que pessoalmente não apoia o ataque.

O que levou, exactamente, o pai de Abdulmutallab a denunciar o seu filho é fonte de debate dentro da família. Ao contar aos americanos, "agiu de acordo com os ditames da sua religião", afirma o tio, Baba-Ahmed. Mais tarde, o pai encarou a detenção do seu filho da mesma forma. "Resumiu-a num verso do Corão", relata Baba-Ahmed. "'Isto é um teste: a tua prole pode ser fonte de felicidade ou de tristeza.'"

Mas o primo, que pede para não ser identificado, tem uma explicação mais matizada para a denúncia de Mutallab: "É uma pessoa que tem investimentos no mundo ocidental desde antes de o rapaz nascer". "Tem uma casa de quatro milhões de libras (4,5 milhões de euros) em Londres. E agora o rapaz está pôr tudo isso em perigo."

Enquanto estudava no Dubai, o ano passado, Abdulmutallab não parecia demasiado agitado, tinha um aproveitamento acima da média nas aulas e lia calmamente o Corão todos os dias no autocarro, desde a residência de estudantes até ao campus universitário, de acordo com um colega de turma e com o director da escola. Secretamente, no entanto, parece que começava a irritar-se com o secularismo à sua volta, tendo discutido com o pai sobre o curso de Gestão que frequentava antes de, abruptamente, desistir.

"O pai queria que ele continuasse os estudos", afirma um funcionário árabe com fortes ligações aos serviços secretos no Golfo Pérsico. "Ele não queria. Não era aquele o mundo árabe para ele. Não era aquele o mundo muçulmano." Foi aí, explica o funcionário, que Abdulmutallab se zangou "e foi para o Iémen sem a autorização do pai". Abdulmutallab entrou no Iémen a 4 de Agosto com um visto para prosseguir os estudos no Instituto San'a para a Língua Árabe, onde estudou a língua em 2004 e 2005. Só que desta vez a sua cabeça estava noutro sítio e ele desculpava-se por faltar às aulas.

Afirmou que tinha uma infecção na garganta e "estava a pensar ir ao Dubai para fazer exames e nós dissemos-lhe que havia hospitais aqui", adianta um colega de turma americano. "Ele chegava a abandonar as aulas a meio para ir rezar na mesquita."

Os investigadores estão a tentar refazer os seus movimentos, analisando como conseguiu desaparecer de vista depois de ter sido levado ao aeroporto a 21 de Setembro com um visto de saída. As autoridades iemenitas dizem que ele foi para as remotas e acidentadas montanhas da província de Shabwa, onde se encontrou com "elementos da al-Qaeda", antes de partir a 4 de Dezembro - poucas semanas antes da sua jornada fatídica para Detroit.

Depois do desaparecimento, o pai de Abdulmutallab tentou desesperadamente fazê-lo regressar. Recrutou um dos seus amigos poderosos, um conselheiro nacional de segurança na reforma, para descobrir o filho através da National Intelligence Agency, a versão nigeriana da CIA. Mas o novo director da agência não concordou com isso, afirmam funcionários no país.

"Ficou com a impressão de que estavam a usar o serviço para localizar o filho pródigo de um homem rico que se andava a divertir por aí", adianta um alto funcionário da segurança nigeriano. "Acho que não fez nada. Não tem qualquer ideia do que é o terrorismo."

Desde a prisão do filho, Mutallab tem permanecido longe dos olhares públicos. O pai "está extremamente preocupado", afirma Baba-Ahmed. "Toda a gente está preocupada."

terça-feira, janeiro 12

E a respeito do post anterior...

Estava agora a ver na CNN que o Reino Unido resolver ilegalizar um grupo islâmico que era claramente radical. A resposta do lider do grupo foi a seguinte (e passo a transcrever):

"We're not going to stop because the government bans an organization," he told CNN by phone. "If that means setting up another platform under another label, then so be it."

A ban "will just make the use of those names ... illegal. But Muslims everywhere are obliged to work collectively to establish the Islamic state and sharia law in the UK or wherever they are -- those things can't change," he added.

Tá tudo tramado :/

Fúria Divina

O regresso aos blogs após as festas de fim de natal e de fim de ano é sempre mais demorado. Mas mais cedo ao mais tarde ele acontece. Estive neste período de férias a ler um livro. Estava a comprar o presente de Natal para a minha irmã e no top da Bertrand estava o Fúria Divina, do José Rodrigues dos Santos. E esse livro, comprei-o para mim. Já andava a constatar há algum tempo que este autor estava a ter um grande sucesso de vendas, com várias obras publicadas. E se um best seller até pode ser fácil de atingir, vários best sellers já me parece mais difícil. E portanto, resolvi ser mais um a manter por mais algum tempo o Fúria Divina no top de vendas em Portugal. Da leitura que fiz, parece-me uma boa imitação do Dan Brown, o autor de - entre muitos outros – o Código da Vinci. Escreve duas histórias paralelas que vão sendo alternadas entre cada capítulo do livro, até que se cruzam no final. Escrever mensagens com sangue próprio por parte de umas personagens que se esvaía em sangue é também algo muito igual ao Dan Brown. Mas postas de parte as críticas, adorei o livro. A maior parte dele, apesar de ficcionado, tem informações completamente verídicas sobre a vertente radical do islão e da própria Al-Qaeda. E deixou-me verdadeiramente perturbado. Cada vez que agora vejo notícias sobre atentados da Al-Qaeda na televisão ou nos jornais, consigo compreender muito melhor todo o processo de actuação deles e todo o conteúdo das suas mensagens – já traduzidas para português ou inglês, como é óbvio. Uma parte do livro é gasta a descrever a história de vida de um muçulmano desde criança até se tornar num adulto pronto a cumprir a vontade de Alá e a fazer a jihad. E consegui identificar-me perfeitamente com os sentimentos dele, que são transversais a todas as pessoas. Consigo imaginar-me como se fosse ele naquele percurso que teve, tendo em conta as suas circunstâncias e a sua procura pela perfeição. No fundo, ele levou uma vida exemplar à luz do meio por onde cresceu e se formou. Com este livro deixei de sentir apenas pena e compreensão pela vertente mais radical do islamismo. Fiquei seriamente preocupado com o rumo que as acções da Al-Qaeda podem vir a tomar. Ao contrário dos ocidentais, que toleram a existência de outras religiões ou a decisão pelo ateísmo, a vertente mais radical do Islão não pretende descansar até que todos os seres humanos estejam convertidos ao Islão e cumpram as palavras de Alá e do seu profeta Maomé. Aconselho vivamente a leitura do livro, que nos dá um precioso ensinamento sobre o contexto actual do terrorismo islâmico. Boa leitura!