terça-feira, julho 11

Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento.
Chovia forte e já era noite.
Mas percebeu que ela precisava de ajuda. Assim parou seu carro e se
aproximou. O carro dela cheirava a tinta, de tão novinho. Mesmo com
o sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém
tinha parado para ajudar durante a última hora. Ele iria aprontar alguma?
Ele não parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pôde ver que
ela estava com muito medo e disse:

- Eu estou aqui para ajudar senhora, não se preocupe. Por que não
espera no carro onde está quentinho? A propósito,o meu nome é
Ricardo.

Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora de
idade avançada era mau o suficiente. Ricardo baixou-se, colocou o
macaco e levantou o carro e em pouco ele já estava a trocar o pneu.
Mas ficou um tanto sujo e ainda feriu uma das mãos. Enquanto
apertava as porcas da roda ela abriu a janela e começou a conversar com ele.
Contou que era de Lisboa e que só estava de passagem por ali e
que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda. Ricardo apenas sorriu
enquanto se levantava. Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia
teria sido muito pouco para ela.

Já tinha imaginado todas as terríveis coisas que poderiam ter
acontecido se Ricardo não tivesse parado e ajudado. Mas Ricardo não
pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho para ele.
Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus já lhe
havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe ocorreu
agir de outro modo.

E respondeu: Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que
encontrar alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a
ajuda de que ela precisar. E acrescentou: ... e lembre-se de mim.
Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi. Tinha sido
um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem,indo para casa,
desaparecendo no crepúsculo.

Alguns quilômetros abaixo a senhora parou seu carro num pequeno
restaurante. Entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante
muito simples, e tudo ali era estranho para ela.
A empregada veio até ela e trouxe-lhe uma toalha limpa para que
pudesse esfregar e secar o cabelo molhado e lhe dirigiu um doce
sorriso, um sorriso que mesmo com os pés a doer por um dia inteiro de
trabalho não pode apagar. A senhora notou que a empregada estava
com quase oito meses de gravidez, mas ela não deixou a tensão e as
dores mudarem a sua atitude. A senhora ficou curiosa em saber como alguém
que tinha tão pouco , podia tratar tão bem a um estranho.

Então se lembrou de Ricardo. Depois que terminou a sua refeição, e
enquanto a empregada buscava troco para a nota de cem euros, a senhora
retirou-se. Já tinha partido quando a empregada voltou.

A empregada ainda queria saber onde a senhora poderia ter ido
quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual tinha mais 4 notas de
100 euros. Existiam lágrimas nos seus olhos quando leu o que a senhora
escreveu.
Dizia: - Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me
ajudou hoje e da mesma forma estou a ajudá-la.

Se você realmente quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe
este círculo de amor terminar consigo, ajude alguém.
Bem, havia mesas para limpar, açucareiros para encher,e pessoas para servir, e a
empregada voltou ao trabalho.

Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama, o seu
marido já estava a dormir e ela ficou a pensar no dinheiro e no que
a senhora deixou escrito. Como pôde aquela senhora saber o quanto ela
e o marido precisavam disto?

Com o bebé que estava para nascer no próximo mês, como estava
difícil!
Ficou a pensar na bênção que havia recebido, deu um grande sorriso,
agradeceu a Deus e virou-se para o marido que dormia ao lado,
deu-lhe um beijo macio e sussurrou:
- Tudo ficará bem; eu amo-te Ricardo.