sexta-feira, abril 4

A vista do meu trabalho...

Na empresa onde trabalho não se pode fumar nas instalações. Desta forma, todos os dias sou forçado a descer ao piso térreo e matar o meu vício por ali. Os escritórios são numa perpendicular da Av. da Liberdade, e é aí que todos os dias dou uma de sociólogo a estudar o comportamento do meio.

Existem naquela vista um conjunto de personagens diárias. São eles o senhor do quiosque dos jornais, uma ou duas raparigas dos países de leste a vender o mítico Borda-d’água, um senhor que vende a revista Cais, as pombas, as árvores e eu e outros a fumar.
Basicamente tudo se resume a isto.

A forma como tudo se interrelaciona é muito interessante. A miúda ou miúdas do leste são melhores amigas do senhor da Cais. É como se fosse um irmão mais velho delas. Fartam-se de rir uns com os outros.

As miúdas de leste são extraordinariamente insistentes com os condutores dos carros, e por vezes mal educadas, batendo nos vidros para chamar a atenção e metendo a cabeça dentro dos carros. As pessoas dos carros não costumam gostar delas com excepção de um carro que lhes deixa sempre uns bolos num saco de plástico à tarde quando passa para elas comerem.
O senhor da revista Cais tem bons amigos aqui por estes lados. Nem tem que se esforçar a fazer a ronda aos carros. Basta levantar a revista e esperar que os carros amigos o chamem para fazer a sua venda.

O senhor do café é o entertainer de serviço. Muitas pessoas conversam com ele numa base diária, à medida que dão uma olhadela no jornal Record, 24 Horas e outros que tais. Tem também sempre algum pão para as pombas que param por ali, já habituadas à sua generosidade. No acto de alimentar as suas pombas, faz questão de privilegiar as pombas com alguns ferimentos, como é o caso de uma castanha que aparece por lá frequentemente, que tem uma pata disfuncional.
As árvores são outro dos personagens desta vista, já que para além de apontarem a passagem das estações, com os seus novos rebentos verdejantes, deixam também cair umas sementes das suas bagas, que as pombas muito apreciam.

De resto, há sempre as restantes pessoas que descem para fumar, e que conversam entre elas sobre os mais variados temas. E era isto que tinha hoje para contar…