quarta-feira, abril 29

No Doubt...

Há já bastante tempo que não tinha um daqueles momentos clássicos em que andamos a desancar num professor com ele nas nossas costas a ouvir-nos. Mas claro que tinha de aparecer a excepção que confirma a regra. E ela teve o seu dia reservado para ontem, no meu local de trabalho.
Como muitos devem saber, o meu dia a dia é passado a comprar e vender acções, isto explicado de uma forma muito simplista. E para efectuar operações, tenho contacto com brokers a quem damos as ordens de bolsa, quer por telefone, por chat ou por videoconferência. Por outro lado, para que se consigo lucrar no trading de acções, é necessário “adivinhar” tendências de comportamento das acções, que ora sobem ora descem, e contamos com a ajuda dos brokers nesse processo.
E serve isto para enquadrar o que se passou. Um dos brokers com quem nós trabalhamos é o Kevin O’Dowd, que trabalha em Boston. E ele tem a rara capacidade de ter ideias precisamente contrárias ao comportamento do mercado. Se acha que as acções vão subir, elas descem; se acha que vão descer, elas sobem. Ora isto pode parecer mau mas na verdade é óptimo, porque ele acaba por acertar sempre, mas ao contrário. E por isso, na brincadeira, comecei a falar com um colega de mesa, a dizer que o novo nome desse broker deveria ser Kevin Contrarian No Doubt, sempre com uma bela gargalhada associada. E claro que tinha de haver uma vídeoconferencia ligada para o Kevin, iniciada por um colega que se encontrava exactamente entre nós, e que permitiu ao Kevin ouvir tudo. E claro que fui apanhado… Ele apareceu no chat a dizer coisas como: “Yeah, i know i’m a contrarian indicator of the market…”, e eu perguntei-lhe de onde é que lhe tinha vindo essa ideia, e ele disse que tinha vindo de mim. E pronto, percebi que tinha sido apanhado.

segunda-feira, abril 27

Alguma preocupação...

Se a Sida, que é a Sida, consegue manter-se propagada por todo o Mundo, e tem uma forma de contágio relativamente limitada, parece-me óbvio que não vai tardar muito a estarmos todos fungosos a afinar com uma bela de uma gripe suína. Não vejo mesmo forma de contornar esta situação. A pior parte, é que apesar de facilmente controlada, não existem stocks a nível mundial para tratar toda a gente que potencialmente ficará infectada. E já nem me vou queixar das minhas férias na Riviera Maia, que há tanto tempo esperava, e que terão de ficar adiadas para outra ocasião…

sexta-feira, abril 24

Conversa avulso no fumício do meu trabalho

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Eu (AB) – Isto estamos com um azar. Parece que cada vez que chega o fim-de-semana começa o mau tempo.
Colega de trabalho (CT) – Pois, isto parece que anda mesmo tudo desregulado. Precisávamos de qualquer coisa para ver se estes dias de chuva passassem para o meio da semana.
AB – Olha, uma boa ideia era uma bomba nuclear na Coreia do Norte. Mas uma que explodisse logo ali, que eles estivessem a montar e que rebentasse.
CT – Pois é pá, esses países é uma chatice. São imensas pessoas e ninguém tem controlo naquilo.
AB – Pois, há uns tempos vi um programa em que eles tentavam fugir pela China mas mal eles os apanhavam era reenviados para lá e torturados. Houve uma que estava grávida e espancaram-na até perder o bebé.
CT – Pois, é uma chatice. É um problema que existe na China e em África. São imensos e ninguém tem mão naquilo. E agora ainda está pior. Eles como têm uma mortalidade infantil muito alta têm sempre imensos filhos para ver se algum se safa. E agora em África põem-se a construir hospitais e ainda é pior. São ainda mais e cada vez mais pobres. Nós europeus temos uma ou duas crianças e a coisa sempre é mais estável. Ao menos na China, como aquilo é uma ditadura, eles sempre podem dizer às pessoas que só podem ter 1 filho. Mesmo assim, sabes que por ano há 150 mil jovens a entrar para o mercado de trabalho na China. É um exagero, e como são mais mão de obra do que a procura que existe, toca a baixar salários. E obviamente, chegam cá com produtos mais baratos.
AB – Pois…
CT – Sabes que eu acho que isto devia era haver barreiras alfandegárias. Assim a Europa tá lixada em três tempos. Como é que nós vamos competir com eles? E ainda por cima consumimos produtos que não respeitam as normas de fabrico ecológicas que existem para as empresas europeias. Isto no mínimo, era aplicar taxas ecológicas. Nós assim não podemos competir com eles. Se calhar estou errado, mas é assim que eu vejo as coisas.
AB – Pois, se calhar até tens razão.

Estas conversas de cigarro são sempre engraçadas.

quarta-feira, abril 22

O Pombal da Avenida da Liverdade

Há aqui perto do meu trabalho um conjunto de sem abrigo considerável, que costumam deambular aqui pela Av. da Liberdade, para cima e para baixo, sem destino ou ocupação. Daqueles que quando uma pessoa vê se afasta sempre que pode, porque eles fedem e muitas vezes já não são deste Mundo, tendo diálogos permanentes consigo próprios, com uma convicção que arrepia qualquer um. E são também estes senhores e senhoras, que amiúde, se entretêm a alimentar os pombos com pão, milho ou arroz. E ali ficam curiosos a ver a bicharada a alimentar-se. Devem ser os poucos seres vivos que vêm exactamente na sua direcção e no final nunca atalham caminho. Estão mesmo aliás de olho nestes sem abrigo à espera de uma porção de comida. E estes senhores parecem retirar destes actos uma grande alegria, pois os seus olhos ficam vibrantes com o espectáculo.

Mulheres, relaxem!

No meu percurso diário para o trabalho, costumo passar pela Basílica da Estrela, contorno o Jardim da Estrela e chego à rotunda ao pé de uns infantários que depois dá acesso ao Rato. Como de manhã às horas que passo há sempre pais a deixar os seus filhos nas escolas, acontece sempre uma das faixas de rodagem estar ocupada por carros parados. E naturalmente, existe uma espécie de acordo tácito de que nessa altura, acaba por se deixar passar um carro de cada vez, de forma a que o trânsito continue a fluir normalmente. Toda a gente sabe que um dos principais problemas dos engarrafamentos é aquele jogo do “ver quem é que consegue lixar o outro” e passar antes, criando uma certa imprevisibilidade quanto à certeza de passar e levando a uma redução da velocidade. E das poucas vezes em que me “tramaram”, [quando tentei virar para a esquerda porque tinha um carro parado à minha frente], quem estava ao volante era uma mulher. Estou eu muito bem a assumir aquilo que se passa à nossa frente, em que passa um de cada vez e vejo um carro [com uma mulher ao volante], a acelerar e a encostar-se ao carro da frente para não me deixar passar. Claro que eu fico com o meu sistema nervoso em alta rotação e só me apetece adormecer a cabeça em cima da buzina por uns segundos, para a senhora perceber que é uma besta. E isto leva-me a pensar noutras situações em que as senhoras estão ao volante. É engraçado que não me lembro de uma única vez ver uma senhora bem disposta, quase com aquele ar infantil que os homens fazem, a fazer um sinal para o outro carro passar só porque está bem disposta com a vida. É algo muito habitual nos homens. Quer sejam homens para outros homens, como quem diz, passa meu amigo, és um gajo porreiro, quer seja homens com mulheres, do género, sou um cavalheiro e podes passar, minha querida.
Quando quem está ao volante são mulheres, só as apanho sisudas, mal dispostas, quase vingativas, e têm essa atitude tanto para com homens como para com mulheres. Passadeiras, também são algo que está lá para colorir o chão da estrada, porque de cada vez que estou à beira de ser atropelado lá vem o rosto sisudo de uma mulher. Sei que estou a generalizar, mas é de facto esta a minha experiência pessoal. Mas agora o que me intriga é a razão disto acontecer. Será uma questão antropológica, em que as mulheres depois de terem cedido durante tanto tempo aos homens sentem agora a necessidade de ter uma reacção exactamente inversa? Mas aí, porque seriam assim também para os seus pares mulheres? Será porque também aí sentem necessidade de saírem airosamente vitoriosas para chamar a atenção dos machos? E se assim for, onde é que eu meto as lésbicas no meio disto tudo? Ou será que elas conduzem de forma diferente? Tenho que averiguar esta situação com mais atenção. Entretanto, vou gerindo como posso esta situação de partilhar a estrada com estes seres estranhos…

segunda-feira, abril 13

Não sou muito destas coisas...

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Mas ontem ouvi uma frase que gostava de partilhar.

"Tão ou mais importante do que ter respeito para com os outros, é termos respeito por nós próprios"

terça-feira, abril 7

Do's and Dont's

Sempre tive e acho que ainda tenho uma certa capacidade de desfasamento entre aquilo que era o entendimento comum um relação a um determinado tema e aquilo que era o meu próprio entendimento. Não se trata de fazer um pé de guerra nem de hastear uma bandeira, trata-se apenas de tentar perceber mais a fundo os temas para depois ter uma opinião mais sustentada. Um exemplo disso é a escolha das árvores de Natal naturais versus em plástico. Sou a favor das árvores de Natal naturais. Por várias razões. A primeira tem a ver com o facto de para as termos por altura do Natal ter de existir espaços de cultivo de pinheiros. Parece-me interessante ter terrenos ocupados por espaços verdes onde os pinheiros processam o dióxido de carbono gasto, por exemplo, a produzir árvores de Natal em plástico. Por outro lado, está provado que uma árvore jovem tem uma capacidade de absorção de dióxido de carbono superior aos seus exemplares em adultos. Donde, não me choca nada a questão do seu desbaste em idade infantil. Faço obviamente um parêntesis para a situação de abate selvagem de pinheiros em zonas protegidas, mas aí o que existe é falta de fiscalização. Escrevo isto apenas para exemplificar as frases do início.
Voltando ao tema inicial, para além de tentar ter uma ideia própria sobre os diversos temas, muitas vezes tenho também a capacidade de assobiar para o lado quando determinadas evidências não me são interessantes. Quero com isto dizer que sabendo que deveria fazer determinadas coisas, ou pelo inverso, que não deveria fazer determinadas coisas, faço-as ou não as faço, respectivamente, conseguindo não me penalizar ou ter problemas de consciência sobre essas minhas atitudes menos correctas.
Por exemplo, andar na faixa do BUS é evidentemente errado, mas eu de vez em quando estou lá batido e acarreto todas as responsabilidades que possam daí advir.
E aqui chego onde queria chegar. Tenho conseguido criar uma certa barreira aos lugares comuns que um ser que vive em sociedade é constantemente levado a seguir. Mas é cada vez mais difícil. E é cada vez mais difícil pôr de lado os problemas de consciência com que eu fico por não as acatar. E o culpado é a publicidade. E também o meu cansaço. Então não é que agora dou por mim a olhar para os reclames e a pensar que devia estar a aplicar o produto para o retardamento da calvície, o líquido para as gengivas, o iogurte que regula o trânsito intestinal, os métodos de Pilates para pôr a minha postura corporal em condições, as refeições light sensaboronas, o adoçante no café, o leite com ómega3, a manteiga baixa em colesterol, etc, etc.
Dou por mim a pensar que devo ser um ser mesmo muito pouco exigente consigo mesmo por não ser capaz de levar uma vida mais saudável, mais responsável.
E o problema está na publicidade. Com as frases como seja responsável, beba com moderação, como é que eu a seguir a beber uns copos a mais posso ficar bem disposto com o resultado? Ou então as Formas Luso, que dizem para começarmos o ano naturalmente em forma. Ou a manteiga Becel, que nos pede para amarmos o nosso coração. Ou então a Actimel, que me ajuda a reforçar as defesas naturais. Ou os colchões Colunex, os únicos que me podem dar uma boa noite de sono…
Eu sempre consegui manter a cabeça fresca e arejada e dar o devido valor ao que se ouve à nossa volta mas às vezes é difícil fazer esse exercício. O Mundo não seria melhor se obrigassem a uma revisão dos conteúdos da publicidade? Mas quem são eles para falar de responsabilidade? Quem são eles para me dizerem que eu não tenho comportamentos saudáveis? Pedi-lhes alguma opinião? Bom, era só um desabafo!