quarta-feira, julho 18

Metro


Gosto muito de andar de metro. É uma bela oportunidade de observar pessoas de forma próxima sem que passemos por voyeurs.
Hoje ocorreram três episódios desde a Quinta das Conchas até aos Restauradores.

À chegada ao Campo Grande, houve a barafunda habitual de entradas e saídas e uma senhora resolveu sentar-se à minha frente.
Eu estava sentado no sentido do movimento da carruagem. Vejo a senhora a passar ao meu lado, a posicionar-se à minha frente e o sinal sonoro das portas a fechar. Durante estes segundos, as portas estremeceram quando fecharam e o metro arrancou imediatamente. Quem anda de metro sabe instintivamente que na maioria das vezes, o som das portas a fechar é seguido de um arranque pujante em direcção à próxima paragem mas acho que as pessoas com a idade vão perdendo estas faculdades.
E então, ocorreu o inevitável. No momento em que a senhora estava quase, quase sentada, mas ainda afastada do banco, e com as pernas flectidas, eis que as leis da física não perdoaram e a senhora acabou por vir para cima de mim, com todos os seus 80 kg, para de seguida conseguir sentar-se finalmente no seu lugar. Eu abri um sorriso e ela não aguentou e também começou a sorrir, como que a libertar a vergonha do que tinha acontecido.

Mais à frente, em Entrecampos, entra um estudante do Técnico, que devia estar a poucas horas de um exame.
Sentou-se ao lado de uma velhinha, muito velhinha, que com o aproximar da morte devia querer aproveitar todos os segundos que lhe restavam. E então, mal o estudante abre o caderno de apontamentos com a insígnia do IST, a senhora lança-se com um sem terminar de perguntas clássicas, só mesmo para meter conversa, do género: “Então, é estudante?”; “Está a estudar o quê?”; “Que idade é que tem?”.
O estudante sempre muito atencioso nas respostas mas sempre que tinha uma oportunidade desviava o olhar para o caderno para aproveitar os últimos segundos para pôr a matéria em dia.

Já no Marquês de Pombal, na transposição da linha Amarela para a linha Azul, na passagem rolante, vinham dois jovens em sentido contrário, a dificultar a passagem das pessoas que vinham em sentido contrário, como era o meu caso.
Primeiro fiquei um pouco indignado, por achar que estavam a dificultar a vida às pessoas mas mais à frente vi um casal que deviam ser os pais dos miúdos com um sorriso estampado na cara, a apreciarem a reguilice dos seus meninos.

Às vezes faz falta alguém para abanar um pouco o status quo.
Se estas histórias não se tivessem desenrolado a minha viagem de metro tinha sido um tédio…

2 comentários:

Rita disse...

ha quem durma, ou leia um livro ou o jornal! e dps ha outrso que observam os demais ; )

Maria disse...

Andar de Metro é sempre uma aventura nova todos os dias. Realmente tens razão, no Metro vê-se de tudo...