terça-feira, maio 19

Escrever em bom português!

Hoje ficou mais uma dúvida esclarecida relativamente à língua portuguesa. Por vezes faço um pouco de escrutínio às minhas próprias expressões para avaliar se são correctas. Estava na conversa e saiu-me qualquer coisa como: “A culpa não é de ninguém”. Ao que se seguia a minha dúvida: se a culpa não é de ninguém, então é porque naturalmente deveria ser de alguém. Estava perante um caso de negação da negação, como na matemática, em que dois sinais negativos produziriam um resultado positivo. Mas a língua portuguesa é bastante mais rebuscada do que a matemática (ainda que boa parte dos portugueses ache o contrário sem que eu perceba porquê…).
Estabelecida a dúvida, estava na altura de a googlar, e o resultado está transcrito abaixo:

[Pergunta Resposta]

Dupla negativa, mais uma vez

[Pergunta] Tenho uma expressão curiosa que me tem afligido durante uns tempos e que é repetida vezes sem conta por todo o lado. Por exemplo, tenham em atenção as seguintes expressões:

«Não vem nenhum...»
«Não há nada...»
«Não fiz nada...»
Ora, estas expressões, tão vulgarizadas, querem dizer exactamente o oposto para o qual são usadas!
Ou seja, são negações de negações:
«Não vem nenhum» = dizer que vêm todos!
«Não há nada» = que existe tudo!
«Não fiz nada» = que fiz tudo!
As expressões correctas deveriam ser, por exemplo:
«Não vem algum» ou «Não fiz algum» ou «Não fiz tudo».
O que têm para me dizer acerca disto?
Muito obrigado pela vossa atenção!
Ricardo Pereira :: :: Lisboa, Portugal

[Resposta]
Em textos antigos em língua portuguesa, vemos que as duplas negativas eram muito frequ[ü]entes. A segunda negativa servia como reforço da primeira.

A(c)tualmente, em certas ocorrências, a repetição de negativas está fora de uso, mas em outras ocorrências a dupla negação mantém-se.

Quando o advérbio não surge em primeiro lugar, podem surgir pronomes indefinidos com sentido negativo em segundo lugar. Exemplos: «Não vejo nada», «Amigos, não vi nenhum», «Não quero cá ninguém», etc.

Se o pronome indefinido com sentido negativo surgir no início da frase, não se usa o advérbio não. Exemplos: «Ninguém te viu», «Nada me interessa», «Nenhum (erro) te escapa», etc.

A. Tavares Louro :: 03/07/2007

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