quarta-feira, março 26

São tão a favor da Ambiente, sei lá!

Durante uma recente viagem de metro, vi mais um daqueles anúncios que qualquer empresa gosta de fazer. O Metro de Lisboa anunciava que deixariam de existir bilhetes em papel, o que segundo eles tornava a empresa Metro de Lisboa ambientalmente muito mais responsável.

As mudanças impostas pelo Metro de Lisboa definem que, a partir de agora, para se comprar um bilhete de metro é necessário comprar um primeiro cartão de papel (curioso, não!), que pode depois ser reutilizado para o carregamento das viagens. A compra desse cartão recarregável, com sua banda magnética incorporada, custa uns bons € 1,60 (não sei exactamente se este valor que atirei está certo, mas basicamente é o dobro de uma viagem normal). A partir dessa primeira compra, pode carregar-se o bilhete aos valores de bilhetes normais, por volta de €0.70.
Acontece que por definição, quem anda de metro com alguma frequência utiliza passe. Nos casos de passageiros que só ocasionalmente andam de metro, as compras de primeiros bilhetes são a maior fatia (a não ser que guardem religiosamente o bendito cartão magnético para viagens futuras), pelo que ao tomar esta medida o metro de Lisboa potencia em muito as suas receitas neste tipo de clientes ocasionais - porque cobra mais por bilhete.
Desta forma, o Metro de Lisboa engorda os cofres e finge que tomou esta medida a pensar no Ambiente.
Da mesma forma o fazem gisásios e hotéis, quando pedem aos seus clientes para minimizarem o desperdício no consumo de água, ou reduzem as temperaturas máximas dos banhos, quando se sabe que estas medidas reduzem os custos a estas empresas.
Acabam por se tomar apenas as medidas ambientalmente responsáveis que ainda assim são uma vantagem para a empresa. O que no fundo não tem nada de mal. O que está mal é dizer que as fazem exclusivamente por terem preocupações ambientais.
Com o estacionamento pagos nas cidades passa-se exactamente a mesma coisa, ainda que neste caso o tema não seja o ambiente. Com o objectivo aparente de ter preocupações em racionalizar e ordenar o estacionamento nas cidades, muitos presidentes de Câmara adoptaram estas soluções para as suas cidades. Mas alguém acredita que foi essa a motivação? Se o objectivo não fosse aumentar as receitas municipais, porque raio é que eu nunca ouvi falar de nenhuma Câmara que resolvesse doar os lucros provenientes das cobranças em estacionamento para instituições de solidariedade?
Mais uma vez, não acho errado tomarem-se medidas ambientalmente responsáveis.
Acho sim é que as empresas devem ser transparentes nas suas verdadeiras motivações.
Por outro lado, acho também importante as empresas fazerem boa e verdadeira publicidade dos seus projectos ambientais. Não sou adepto de teorias como a de um artigo que li no jornal Oje que dizia que as boas acções devem ficar silenciadas.
Pelo contrário, no que toca ao ambiente é bom que as empresas divulguem as suas acções, para que os consumidores possam ter informação na altura em que tenham de optar pelas diversas empresas. E tem o efeito dominó de outras empresas não quererem ficar para trás.
Resumindo, empresas ambientalmente responsáveis sim, mas também transparente na transmissão das suas mensagens.

3 comentários:

Unknown disse...

Tens toda a razão. Eu reciclo desde os 12 (!) e irrita-me ver que, de repente, depois de ter sido ostracizada durante anos, como se fosse uma freak, agora absolutamente toda a gente fala como se tivessem nascido do Greenpeace. E as empresas, claro, são as que mais se aproveitam. E como sempre, às nossas custas.

Hyaat disse...

margarida, reformulei um pouco o texto porque tinha sido escrito à pressa mas o conteúdo mantém-se!
O facto de reciclares desde os doze só vem confirmar o ser visionário que há em ti!

vicks disse...

Gostei do teu post. Concordo com o que dizes. Muito bem visto.

Pessoalmente, hoje em dia mete-me nojo o pessoal que se gaba de reciclar e que espalham aos sete ventos que vão trabalhar de bicicleta ou de transportes públicos. Como diria o meu pai: não fazem mais do que a sua obrigação.

Nos anos 90 estava na moda o prefixo ECO. Nesta década é o prefixo BIO. O que se seguirá?